Apesar do alardeado resultado de um acordo entre o governo e
a indústria, que reduziu o teor de sal nos alimentos, o consumidor brasileiro
ainda consome mais que o dobro da substância recomendado pela Organização
Mundial da Saúde (OMS).
Os altos índices de presença de sódio - elemento contido no
sal - preocupam o governo brasileiro e motivam iniciativas de saúde pública
para monitorar o consumo, reduzir os índices já na fabricação e promover
mudanças de hábitos.
Cerca de metade dos brasileiros (48,6%) avalia seu consumo
diário de sal como "médio", segundo dados compilados pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) através a pesquisa Vigitel 2013
(Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito
Telefônico).
Acordo consegue reduzir sódio em alimentos no Brasil
A percepção equivocada preocupa médicos e autoridades, já que o País estima que
o consumo médio do brasileiro seja de 12 gramas de sal por dia, mais do que o
dobro dos 5 gramas diários recomendados pela OMS.
Não por acaso, o governo estima que um quarto da população
sofra de hipertensão arterial, uma das consequências do excesso de sódio na
dieta.
O excesso de sal na alimentação está ligado ao aumento no
risco de doenças como hipertensão, doenças cardiovasculares e doenças renais.
Doenças crônicas não transmissíveis, como essas, são responsáveis por até 63%
das mortes no mundo e 72% no Brasil, e um terço dos óbitos ocorre em pessoas
com menos de 60 anos, indica o Ministério da Saúde.
Acordos
O consumo moderado de cloreto de sódio, ao lado de uma alimentação saudável e
prática de exercícios físicos, já é uma recomendação tradicional do Ministério
da Saúde e dos médicos.
A partir de 2011 o governo federal passou também a celebrar
acordos com a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia) para
reduzir gradativamente as quantidades de sal presentes em alimentos
industrializados.
O governo divulgou o primeiro resultado desta iniciativa na terça-feira (12).
Entre 2011 e 2012, cerca de 1,3 mil toneladas de sódio foram retiradas apenas
de três classes de alimentos (pães de forma, bisnaguinhas e massas
instantâneas).
O acordo possui outras 13 categorias de alimentos, ainda não
testados. Em 2012, outro pacto incluiu na lista temperos, caldos, cereais
matinais e margarinas vegetais, e mais dois documentos foram assinados posteriormente,
agregando ao grupo empanados, hambúrgueres, três tipos de linguiças, mortadela,
apresuntados, queijo mussarela, requeijão e sopas instantâneas.
A meta é reduzir em 28,5 mil toneladas a presença de sódio na mesa dos
brasileiros até 2020, para se adequar à recomendação da OMS.
Em entrevista à BBC Brasil, o presidente da Abia, Edmundo
Klotz, comentou o processo. "Não foi fácil, mas por ser uma redução
gradual, ao longo dos anos, foi possível acompanhar e amadurecer a ideia na
indústria", disse o empresário. "Em 2007 já havíamos reduzido as gorduras trans, agora
o sódio. No futuro serão as gorduras e o açúcar. A tendência é produzirmos
alimentos mais saudáveis", afirmou. "E há países copiando nosso modelo, que não é de proibição, mas sim de
redução voluntária gradual. Argentina, Chile, e até nações europeias estão
seguindo a ideia."
Educação nutricional
Para Durval Ribas Filho, médico nutrólogo e presidente da
Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), a ideia é muito bem-vinda, e a
participação das indústrias alimentícias dá um peso muito maior à iniciativa. O especialista, no entanto, diz que há mais medidas que
podem ser tomadas, sobretudo no campo da educação nutricional. "O caráter voluntário desse programa é bom, porque a
história mostra que as proibições não dão certo. Mas podemos fazer mais. Ações
nas escolas, com as crianças, seriam bem-vindas, explicando sobre os malefícios
do sal. As pessoas também deveriam refletir sobre esse hábito de ter o saleiro
em cima da mesa, o que ainda é muito comum no Brasil", avalia.
Ribas relembra que o sal é um mineral importante e que a
presença do iodo, essencial para a saúde da glândula tireoide, é uma razão para
o seu consumo. A questão é o excesso. O especialista chama a atenção para o sal
light, com 50% menos sódio, que já está disponível no mercado brasileiro. "Cada país tem seus hábitos, seus costumes. Há lugares
que acrescentam molhos, pimentas. No Brasil é o sal. O brasileiro gosta de tudo
bem doce ou bem salgado, acha que assim tem mais sabor. Mas com o tempo a
própria população vai exigir alimentos mais saudáveis."
O Ministério da Saúde e a Abia devem divulgar nos próximos
meses os dados relativos à redução de sódio nos outros alimentos que integram
os acordos.
Fonte: BBC Brasil
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